(19) 3541-3885
seminario.araras@canossianos.org.br

Das memórias de Santa Josefina Bakhita

“Dei então o meu coração um eterno adeus à África. Uma voz interior me dizia que nunca mais eu retornaria. Tendo voltado para Mirano, dona Turina permaneceu conosco por cerca de dois anos, mas teve que partir de novo para Suakin, para mais uma vez voltar à Itália. Ela, então, pensou em confiar-vos (a criança e eu) a um colégio para recebermos um pouco de instrução. Procurou-se a Congregação de Caridade de Veneza que, de boa vontade, concordou em aceitar-me no catecumenato, dirigido pelas Irmãs Canossianas, onde eu poderei me instruir. Mas a menina já era batizada. Como e por qual motivo deixa-la no catecumenato? A senhora não queria absolutamente nos separar, de modo que a luta durou mais de um mês sem se chegar a uma conclusão. Interveio, então, o administrador de dona Turina, o Sr. Iluminado Checchini, homem de coração de ouro e de iluminada consciência, e que conservou por mim, durante toda a sua vida um verdadeiro amor paternal.
Foi durante esse mês de espera e de indecisões que o Sr. Iluminado me presenteou com um crucifixo de prata. Ao dar-me o crucifixo, beijou-o com devoção e depois me explicou que Jesus Cristo, o Filho de Deus, morreu por nós. Eu não sabia o que isso significava, mas impelida por uma força misteriosa, escondi-o por medo que a senhora mo tirasse. Até então, eu nunca havia escondido nada, porque não era apegada a nada. Recordo que, às escondidas, eu olhava e sentia algo que não sabia explicar.
O Sr. Iluminado estava tão ansioso para que eu fosse admitida no Instituto dos Catecúmenos, que deu a sua palavra por escrito e em papel timbrado que, se por acaso a senhora Turina não cumprisse seu dever, ele mesmo pagaria a pensão.
Assim, eu e a menina fomos recebidas no catecumenato e confiadas a uma irmã encarregada da instrução dos catecúmenos. Não posso deixar de chorar ao recordar o cuidado que ela teve para comigo. Quis saber se eu desejaria tornar-me cristã e diante de minha resposta afirmativa, e que, aliás eu vinha com aquela intenção, ela exultou de alegria.
Então, aquelas santas irmãos, com paciência heroica instruíram-me e levaram-me a conhecer aquele Deus que eu desde criança sentia no coração, sem saber quem ele era.
Lembro-me de que, vendo o sol, a lua e as estrelas, as belezas da natureza, eu dizia a mim mesma: ­“Quem é o dono destas coisas tão bonitas?” E sentia uma grande vontade de vê-lo, de conhece-lo e prestar-lhe homenagem, E agora eu o conheço. Obrigada, obrigada, meu Deus!
Dona Turina me acompanhou ao colégio, e ao sair, já no limiar d aporta, virando-se para me saudar, disse-me: ! Olha, está é a tua casa!”
Disse isso sem penetrar o verdadeiro sentido das palavras. Oh, se ela tivesse imaginado o que aconteceria depois, não teria me levado para lá.”

                                                                                                                                                                                    (M.L. Dagnino, 1993, pp. 57-59)
                                                                                                                                                                                      “África, Pátria minha, adeus! ”