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Desde 1800 Madalena de Canossa pensava numa fundação, num projeto amplo, com uma estrutura que garantisse a continuidade e a generosidade de uma resposta às necessidades da época.

Esboçou um Plano que se iniciava assim:

“Algumas pessoas desejosas de dedicar-se à Glória e ao serviço de Deus, refletindo sobre as atuais circunstâncias pensariam em instituir uma Congregação ou Pia União, cujo objetivo seja a realização dos dois grandes preceitos da Caridade, amar a Deus e ao próximo e consequentemente, por meio desta, santificando-se a si mesmas, respondendo às necessidades que descobrirem no País”.

Madalena reconhecia haver três necessidades básicas às quais os Filhos da Caridade poderiam responder: a educação (...), a instrução e assistência. Neste plano ela tirava tudo o que poderia cheirar a monástico ou claustral: hábito, coro, etc. Os membros do Instituto deveriam distinguir-se pela caridade para com os pobres e os pequenos nas maiores urgências e necessidades. “Numa palavra, fazendo com que estes pobres que andam sem rumo encontrem nos religiosos o afeto e o interesse daqueles pais que, ou lhe faltam, ou talvez seria melhor que não tivessem”. Isto no pensamento, na teoria. Na prática, porém, precisou-se de uma longa gestação para se ver concretizada a ideia.

Uma tentativa inicial se deu em Bérgamo, onde um grupinho de leigos, animados por um sacerdote pediu orientações e conselhos práticos para o bom funcionamento de uma obra em prol dos menores. Ela enviou o seu Plano de fundação e foi pessoalmente para orientá-los.

Em Milão suscitava através de Mons. Zoppi, na paróquia de Santo Estevão, o Oratório Sto. Ambrósio. Padres e leigos atuando juntos em prol dos menores. Por insistência deles e lembrando que Deus fez falar até a burra de Balaão, escreveu as sete comemorações do Preciosíssimo Sangue e as Reflexões das dores de Maria, onde define o espírito que deve animar seus Filhos: um espírito de grande generosidade, amor e humildade.

Em 1820 encontra Antônio Rosmini, então subdiácono. Sente que ele poderia ser a pessoa certa para dar início ao Instituto. Durante oito anos houve uma intensa correspondência entre os dois. Havia pontos de encontro como a centralidade do amor de Deus e sua vontade, a leitura dos sinais dos tempos, a caridade manifestada no Crucificado. Aos poucos, porém, foram descobrindo que havia dois carismas diferentes. Rosmini via a necessidade de reformar a Igreja e considerava importante aceitar as dignidades eclesiásticas; já Madalena temia que isso pudesse afastar os religiosos do espírito do Instituto. Para ela, os Filhos da Caridade “deveriam germinar no Calvário entre Jesus Crucificado e Nossa Senhora das Dores, e, crescendo regados pelo sangue de Jesus e pelas lágrimas de Maria, abrasar de amor, permanecendo, porém, na humildade e obscuridade da Cruz”. Em 1828, Rosmini retira-se no monte Calvário de Domodóssola e funda o Instituto da Caridade. Numa carta ele declarará abertamente que a primeira ideia da fundação foi de Madalena, que o exortava desde 1821 a dar início a uma congregação assim. Madalena, porém, não se reconhece e retoma com paciência a realização do seu projeto.

Começou a prestar atenção em Pe. Antônio Próvolo, de origem pobre, e que uma vez padre continuou no seu meio popular, dedicando-se com simplicidade ao seu apostolado. Madalena compra para ele a Igreja de N. Sra. do Pranto e três casinhas com uma horta para dar início à obra. Tudo parecia ir bem, mas aos poucos apareceu um outro carisma fundacional. Próvolo começou a dedicar-se exclusivamente aos surdos-mudos, provocando um afastamento de Madalena até a ruptura da colaboração.

Contemporaneamente, em Veneza, motivou o Pe. Francisco Luzzo, professor de gramática no Seminário, a dar início ao Instituto. E aos 23 de maio de 1831, em forma simples, sem pretensões, iniciava-se a obra numa casinha que Madalena havia comprado do governo austríaco.

A iniciativa se mostrou logo oportuna, porque em poucos dias já havia um número grande de participantes e o velho padre não conseguia dar conta. Madalena colocando sua confiança total  em Nossa Senhora das Dores confessava: “Se Maria Santíssima não intervir com um dos seus prodígios eu vejo a Obra perdida”. Convidou dois marceneiros que havia conhecido em Bérgamo e Milão: Giuseppe Carsana e Benedetto Belloni, os quais deram uma contribuição fundamental. De manhã trabalhavam como marceneiros para se sustentarem e à tarde e à noite se dedicavam às crianças e aos jovens.

Quatro anos mais tarde a Fundadora morreu, sem ter sequer o tempo de escrever  uma regra. Em seguida à morte de Madalena, o Pe. Francisco Luzzo, já cansado, abandonou a obra para ser Carmelita descalço, em Treviso. A Obra, agora, ficou nas mãos dos dois marceneiros leigos, eles também, ficando sozinhos sem o diretor, começaram a pensar se não seria melhor deixar tudo e voltar para sua cidade de Bérgamo. Foi Giuseppe Carsana, considerado como o verdadeiro co-fundador da Congregação masculina, que nesta hora crítica, aceitou mandar para frente o Oratório, encorajado pela Madre Cristina Pilotti, à qual Madalena antes de morrer tinha confiado em cuidar especialmente desta obra. A história de humildade e escondimento dos Filhos da Caridade, os confirmará educando-os ao espírito de Madalena. Poucos religiosos, irmãos, três... às vezes quatro, ajudados por alguns leigos, mantiveram vivo no Oratório de Veneza por quase um século, em meio a tantas dificuldades, o dom confiado a Madalena e transmitiram um espírito de serviço humilde e generoso aos pobres, aos jovens e às crianças com a coragem de esperar contra toda esperança. No confiante abandono a Deus daqueles irmãos, em seu árduo trabalho e no apostolado sem aparências, numa vida pobre de recursos e de seguranças humanas, o Instituto experimentará a lei da Cruz  “se o grão de trigo caído na  terra  morrer, produzirá muito fruto”. Em 1923, a Congregação contava só com dois membros, o Servo de Deus Irmão Giovanni Zuccolo e um jovem postulante; eles se questionaram se era vontade de Deus continuar ou se não estariam levando para frente um projeto puramente humano. Foram ao Patriarca de Veneza dispostos a tudo... até morrer como Congregação.

Um santo sacerdote, canonizado em 18 de abril de1999, S.Giovanni Calabria, encarregado de avaliar a coisa, reconheceu que havia o dedo de Deus e pediu que se deixasse a pequena obra continuar. Como por uma brincadeira de Deus, a partir daquele momento, a Congregação foi crescendo. A entrada no Instituto do sacerdote Pe. Angelo Pasa deu novo impulso, através da fundação do primeiro seminário dos Aspirantes Canossianos aos 12 de setembro de 1928.

 No dia 15 de Setembro a Congregação celebra a Padroeira Nossa Senhora das Dores “a verdadeira fundadora” como a chamava  Sta. Madalena.

Hoje, os Filhos da Caridade estão presentes na Itália, no Brasil, nas Filipinas, na Índia, na Tanzânia, no Quênia e em Timor-Leste contando com cerca de 200 membros entre religiosos irmãos e sacerdotes, desenvolvendo seu apostolado através dos ramos de caridade nos Oratórios e Paróquias, Obras assistenciais e Casas de Retiro, educando e catequizando as crianças, orientando jovens, preferindo os pobres e mais necessitados.

No Brasil a Congregação está presente,  com  seus 25 membros, no estado de São Paulo, na diocese de  Limeira  nas  cidades de Araras e Nova Odessa; na arquidiocese de Ribeirão Preto, na cidades de Santa Rita do Passa Quatro e Ribeirão Preto; no estado de Rio de Janeiro, na diocese de Petrópolis, em Piabetá e na diocese de Duque de Caxias, em Agostinho Porto e no Maranhão na Diocese de Grajaú, Presidente Dutra. A primeira casa foi fundada em 06 de Dezembro de 1966,  em Araras, na paróquia São Benedito, onde reside também o Seminário Propedêutico e o Noviciado, a Casa de espiritualidade “Emaús” e a sede central da Delegação para o Brasil. A cada ano, no dia 23 de maio (dia de nossa fundação) fazemos memória da “teimosia” de uma Mulher que só viveu para deixar-nos como herança o “Maior Amor”.